quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

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Os remédios confundem completamente o meu corpo. Muitas coisas mudam em nossas vidas, sendo elas mais notáveis ou não. Não vim aqui especificar se o que é notável é a sua vida ou as coisas que mudam nela, deixo isso para você refletir. Tudo muda com o tempo. E infelizmente, nem sempre acompanhamos essas mudanças. A segurança e estabilidade está em se adaptar os que nos entorna e as flutuações que nos balança.

O corpo não conseguiu até agora se ajustar perfeitamente à nova medicação. Onze horas e remexo até as três. Distúrbios das mil reações adversas. Sem apetite para namorar, sem desejo de comer. Independente de higiene, o corpo acredita que sou um pacote hormonal adolescente com desodorante vencido. Os cabelos caem e Rapunzel moraria para sempre no alto da Torre. Já não tremo pois é a nova medicação.

Se esquece que somos carne que sofre e que muda. Carne que tem gordura e sangra quando se corta, vomita quando se enjoa. O melhoramento não se trabalha em partes. Não somos Jack, o estripador, para falarmos em pedaços. Trabalha-se então no conjunto inteiro: corpo e mente.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

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O fracasso persegue. Não só a todos como também aqueles que possuem mais dificuldades de enfrentar a vida. A ambição da mania me faz acreditar que posso tudo. Somos todos gênios. É difícil não parecer egocêntrica quando digo que tenho medo de ser inteligente. Não medo do sucesso. Mas sim de, e se eu não o for?

Por que temos que ir para dentro da busca da genialidade? A mania me induz a crer sempre que sou algo que possivelmente posso não ser. Um leve dislumbre da realidade que acontece antes da depressão tomar conta. A depressão não é amiga de ninguém. A mania pelo menos te engana que você é feliz. O gato não dorme, quem dorme demais sou eu. Hoje foram treze horas seguidas. Sei que fujo do mundo com medo de fracassar. É difícil.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

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Como num lento movimento de areia movediça sinto que a cama me engolia. Jonas e a Baleia. Não tenho palavras para explicar o porquê não consegui ir me alimentar. Falta de vontade, de coragem, seria preguiça? Não posso dizer que não há comida em minha casa, pois há. Me sinto totalmente enferma.

O dia esteve azul, marco compromissos sociais e logo em seguida foram cancelados. Por mim. Porque dizem que a felicidade está nas relações sociais? O pior por vir é a invisível pressão social de ter de se fazer social para sair da anti-sociabilidade. É uma puta ironia. Sair de casa é uma dificuldade, não consigo me motivar. Hoje tomei os controladores de humor.

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Não é que eu seja realmente triste. É estranho para os de fora entenderem o que eu digo quando digo: depressão. A palavra às vezes assusta, ou cria riso. De qualquer forma, é sempre um entendimento distorcido. É estranho ver o outro na cama durante horas, sem movimento, ou, talvez, somente dormindo. E ainda mais estranho é ver esse mesmo outro reunir forças para sair desse estado de inércia e ir ao cinema. O que pesa entre o cinema e o resto da vida para fazer esse movimento de sair da cama? 

Motivação. Acredito que a palavra antagônica à depressão seja motivação. E é inexplicável as razões por quais alguém se motiva. A pessoa deve saber. Deve? É esse o maior problema e a maior dificuldade de se (tentar) sair de uma depressão. Nossos arredores querem uma explicação para a sua falta de motivação, sendo que você mal sabe a razão da sua motivação. Como lidar com tudo isso?

É complicado tentar assumir uma postura de um ser inabalável: aquele que não se abala com as questões do mundo, com as responsabilidades do futuro, com as explicações necessitadas dos entes queridos e ainda assim, ter que tentar-se motivar para um lugar melhor. Com isso, para ser menos incomodado e para tentar então me reenguer em busca da felicidade às vezes me mostro um ser feliz. É um grande desafio, e aí sim, vemos uma máscara feliz que colocamos, numa situação desagradávelmente triste, para esta não ser ainda pior.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

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Não sei se isso sempre aconteceu e eu só me dei conta agora ou se são os remédios novamente atrapalhando. O que acontece é que não tenho muitas percepções para minhas necessidades fisiológicas. Melhor dizendo, não percebo claramente quando tenho fome, frio, sede ou calor. 

Normalmente quando sinto fome, o que acontece é: a minha pressão abaixa e eu fico irritadiça. Meu estômago não dói e nem ronca. O resultado é que na maioria dos casos eu acho que estou com sono, por causa da pressão baixa que causa certa letargia. E aí durmo e não como. Uma confusão total.

Quando sinto sede, as vezes compreendo como uma necessidade de escovar os dentes ou a vezes de comer uma comida salgada. Então como não sei bem diferenciar isso tenho uma meta de beber dois litros de água todos os dias.

Já quando sinto calor eu só sei quando suo. Caso contrário fico agitada, irritada, mau humorada e acabo descontando em todo mundo. Sendo que eu poderia só ligar o ventilador. Mas eu não sei quando, então sempre durmo com o ventilador ligado.

E o frio é o mais difícil. Não sei quando estou com frio. Frio me deixa letárgica, rabugenta, desmotivada. Acho que estou com frio quando fico muito tempo sem comer. Também sempre ando muito de shorts de não percebo que estou com frio e acabo dormindo muito.

A depressão me confunde muito. Me deixa sonhadora e me faz me perder até nessas coisas básicas. Para me entender preciso reunir motivação, que muitas vezes me falta. É um ciclo, temos é que saber como sair dele.

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Hoje eu acordei e pensei: não vou tomar os controladores de humor. Não. Preciso só dos anti-depressivos. Segunda-feira é dia de renovação, de mudança e de esperança. É o dia que a gente tenta se esforçar para começar tudo aquilo que a gente posterga no fim de semana. Então, nada de controladores de humor. Que o mau humor vá para o caralho.

Tomei café da manhã e o gato estava no lugar dele, calmo, como um gato comum. Achei estranho vindo do meu gato. Aproveitando a paz felina fiz café e comi um mini-chocotone que o custo benefício é ótimo: $2. É ele não é tão bom, mas ele também não é tão caro. E aí que veio a decisão dos remédios. Mais café.

Acredito que seja quase impossível me manter interessada na vida, no universo e tudo mais sem a intervenção do café. Não estou dizendo que sou viciada em café, veja bem. Mas se um dia deve ser produtivo, minimamente movimentado e que eu não passe 16h na cama, deverá haver café. Hoje por exemplo, fiz café: ele está fraco, porque me conheço.

É um auto-sabotamento. Preciso de café. Logo beberei muito café. Para ter menos reações adversas então faço café fraco. Porém bebo grandes quantidades de café fraco. O que dá no mesmo. Repita o processo. Fim.